Considerado violento e imprevisível, Brandon van Ingen, de 18 anos, não vê a luz do sol desde 2007 e vive acorrentado.
Imagens de Brandon acorrentado foram mostradas pela TV holandesa |
Brandon van Ingen, de 18 anos, não vê a luz do sol desde 2007. Por recomendação médica, ele vive atracado à parede de seu quarto em uma clinica psiquiátrica, na cidade de Ermelo, no centro da Holanda.
De acordo com o laudo médico da clínica, Brandon é violento e imprevisível, por isso tem de vestir, 24 horas por dia, um colete fechado à chave que é preso a um cinturão atracado à parede.
"Estamos constantemente buscando alternativas médicas, mas atualmente a medida é a melhor para a sua própria segurança e para a dos funcionários da clínica", afirmou o gerente regional da instituição, Frank van de Linden. "Todas as sugestões de como tratá-lo de outra maneira são bem-vindas."
O caso chegou ao Parlamento do país, que convocou uma sessão extraordinária no fim de semana para discutir o assunto, com a presença da mãe do adolescente e da secretária-executiva do Ministério da Saúde, Marlies Veldhuijzen van Zanten-Hyllner.
A deputada Sabine Uitslag revelou que existem outros 40 casos similares no país e diz que é inaceitável que num país civilizado como a Holanda um método desses ainda seja aplicado.
Van Zanten-Hyllner visitou Brandon na sexta-feira e afirmou que ele deverá ser transferido para um quarto adequado, ou seja, sem mobília.
"Ele me prometeu que não vai mais quebrar seus brinquedos e que prefere sair nas fotos sem o cinto", disse a secretaria após a visita.
'Animal enjaulado'
A reportagem sobre Brandon foi ao ar na última terça-feira na Rede Evangélica (EO, na sigla em holandês). As cenas mostravam que ele vive "como um animal enjaulado e sem poder sequer abrir a janela do quarto dele", nas palavras de sua mãe, Petra van Ingen. "Isso me causa muita dor", afirmou ela.
Corrente que prende Brandon a parede tem 1,5 metro de comprimento |
Ela disse que, se é para viver encarcerado, Brandon deveria ser transferido para a enfermaria de um presídio "onde trabalham homens fortes (que podem contê-lo se tiver ataques de fúria), mas pelo menos ele terá liberdade de movimento".
Corrente que prende Brandon a parede tem 1,5 metro de comprimento
O cinto que prende o jovem é ligado a uma corrente com apenas 1,5 metro de comprimento, conectada a uma estrutura de metal presa à parede. Além de fazer as necessidades fisiológicas sempre com esse cinto, ele come, brinca com bola e de carrinho. Mas "dançar alguns passos de rap e de Michael Jackson é muito difícil com o cinto", reclama Brandon.
De acordo com as imagens feitas pela família, um ritual complicado é necessário para permitir que ele assista à televisão em uma sala adjunta.
Primeiro, a porta de seu quarto é trancada pelo lado de fora, depois a chave de seu colete com três fechaduras é lançada por baixo da porta para que ele mesmo possa abri-las.
Ele devolve a chave para o funcionário que está do lado de fora do quarto e só então pode ir para o quarto ao lado assistir desenho animado. O mesmo ritual se repete quando ele retorna ao seu quarto.
Brandon tem idade mental entre 5 e 8 anos e é hiperativo, mas consegue descrever seus sentimentos, além de elaborar e formular questionamentos à família e aos especialistas sobre a razão de viver preso desta maneira.
Para ele, os pequenos passos que tem de passar para alcançar sua liberdade são muito longos. Ele se sente "um menino pequeno" e diz que quer sua liberdade para se sentir maior.
'Ele só pensa em fugir e sente que os funcionários da clinica têm medo dele, mas ele não quer ser temido', diz a mãe.
Comoção
O caso causou grande comoção na Holanda. Em muitos sites e blogs, internautas questionam as regras de procedimento em instituições psiquiátricas e pedem um tratamento mais humano em casos como o de Brandon.
O diretor da Plataforma VH, que reúne organizações de assistência a deficientes intelectuais menos agudos, critica a avaliação feita pela comissão nacional de inspeção a saúde. Há dois anos, a comissão considerou o cárcere de Brandon aceitável e atendendo as normas recomendáveis por especialistas.
De acordo com Wim Drooger, diretor da Plataforma VH, "esta situação deve ser interrompida o mais rápido possível e a legislação deve ser modificada".
Drooger questiona a falta de avanços nessa área nas últimas décadas, tendo em vista a comoção causada no país por outro caso semelhante em 1988, o de Iolanda Venema, que vivia atracada nua à parede da clínica onde estava internada.
A mãe de Iolanda, Tiny Venema, que também tem participado dos debates na imprensa sobre o caso de Brandon, afirma que "por medo de represálias contra os pacientes os pais mantém silêncio sobre o sofrimento dos filhos que vivem amarrados feito animais nas instituições psiquiátricas".
"Com tratamento personalizado, Iolanda teve um enorme progresso", afirma a mãe da jovem, já morta.
Para o pedagogo especialista em educação de deficientes Ad Peulen, entrevistado no documentário da EO, o caso de Iolanda Venema mostrou que existem alternativas ao tratamento de Brandon.
Segundo Peulen, com o tratamento adequado o adolescente pode se tornar, dentro de suas limitações, uma criança como outra qualquer.
"Ele tem as capacidades desenvolvidas e pode brincar jogar futebol ao ar livre, como fazia antes quando ia visitar a família nos fins de semana. Se ficar irritado, tem de extravasar sua frustração de alguma maneira", disse.